A prática missionária nem sempre é reflexo de
nossa crença. Existe uma relativa diferença entre a teoria e a prática
missionária, e esta diferença se evidencia em três áreas bem definidas:
a-
Conceitos equivocados
Dois conceitos errados em especial tem sido muito
prejudicial.
O Primeiro, é que missões têm sido entendida como
uma tarefa especial, para pessoas extraordinárias. Nada poderia estar mais
distante do propósito de Deus. A Bíblia ensina que o método de Deus é usar o
tolo, o fraco, e as pessoas menosprezadas do mundo para trazer glória para Si
(1 Cor. 1:26-31). O propósito de Deus é realizado por pessoas simples que
acreditam e servem a um Deus
extraordinário.
Paulo foi considerado durante muito tempo como o
missionário ideal, exatamente pela falta de compreensão de muitos, de que a
expansão do evangelho no primeiro século foi realizada principalmente por
pessoas como Barnabé, Silas, Marcos, Priscila e Áquila, Epafrodito, e uma
grande quantidade de outros cristãos
anônimos. Deus pretende usar a todos-- a Marcos e o Epafrodito, como também a
Paulo-- para realizar a missão Dele.
Se nós formos levar a cabo a missão de Deus
durante nossa vida, nós temos que apagar de nossas mentes a idéia que só as pessoas extraordinariamente talentosas são
as missionárias. Tal pensamento desencoraja a pessoa de se identificar com
missões a não ser que ele pense que ele tenha uma doação extraordinária e
chamada. Este tipo de pensamento coloca uma aureola em cima da cabeça do
missionário, quando isso acontece é impossível para ele medir até o ideal.
A segunda concepção errada nutrida por essa
mentalidade pequena é que missões podem ser realizadas por meio de procuração.
Alguns pensam que os missionários são os seus substitutos na evangelização
mundial. Eles se sentem satisfeitos em orar por missionários, por apoiá-los e
os encorajá-los. Todas estas coisas deveriam ser feitas, mas fazê-las não
alivia cada cristão da responsabilidade de
ser envolvido diretamente na missão de Deus.
Missões através de procuração tem sido o
procedimento operacional normal em muitas igrejas. Alguns deixam missões a
cargo do ministério de Mulheres e esperam que as mulheres se responsabilizem pelo
envolvimento da igreja em missões. Em outros tempos era esperado que uma Junta de Missões Nacional ou uma Junta de
Missões Estrangeira assumisse a responsabilidade completa por cumprir o mandato
que Deus deu a todos seus discípulos. Alguns cristãos entendem que dando parte
de seus salários como donativos para
missões estarão exonerados da sua responsabilidade de evangelizar o mundo.
Missionários agências missionárias e
juntas missionárias são expressões práticas da preocupação dos cristãos e
igrejas locais, mas eles não podem
cumprir sozinhos a obrigação que Deus deu para todo cristão e para toda igreja.
Nem todos podem ser um missionário, mas todos podem estar em missão para Deus.
b- Motivos ou
metas erradas da missão
a- Motivos Impuros
·
Imperialismo: Tornar os
nativos sujeitos de autoridades coloniais
·
Cultural: Missão como transferência da cultura superior do
missionário.
·
Romântico: Desejo de ir a países exóticos
· Colonialismo: Anseio de exportar nossa confissão de fé e ordem
eclesiástica a outros territórios.
b- Outros motivos (mais adequados teologicamente, mas
incorretos também).
· Motivo da
conversão: Enfatiza o valor da
decisão e do compromisso pessoais –
porém tende a estreitar o reino de Deus de modo espiritualista e
individualista ao total de almas salvas.
· Motivo
escatológico: fixa o olhar
das pessoas para o reino de Deus como uma realidade futura, mas, em sua ânsia
de apressar a sua vinda, não tem interesse nas exigências dessa vida.
·
Motivo do
plantio de igrejas: acentua a
necessidade de reunir uma comunidade das pessoas comprometidas, porém tende a
associar a igreja com o reino de Deus.
·
Motivo
filantrópico: a igreja é
desafiada a buscar justiça social neste mundo, mas equipara o reino de Deus a
uma sociedade melhorada. A filantropia deve ser uma atitude da igreja, não uma
metodologia.
c-
Estratégias equivocadas
Segundo o missiólogo Carlos DelPino a realidade do
movimento evangelístico e missionário da igreja brasileira exemplifica os
disparates nas estratégias missionárias do povo de Deus. As informações abaixo
ilustram os equívocos de estratégias.
a- Distribuição da força missionária
ü 91% dos missionários são enviados para o mundo
cristão
ü 8% dos missionários são enviados para o mundo não
cristão, porém evangelizado
ü 1% dos missionários são enviados para o mundo não
evangelizado
b- Distribuição financeira
ü 95% dos recursos são usados nas atividades
domésticas
ü 4,5% dos recursos são usados em campos
missionários do mundo evangelizado
ü 0,5% dos recursos são usados para alcançar os não
alcançados
ü (a média de contribuição da igreja brasileira para
a obra missionária é de 0,50 centavos)
Um fundamento inadequado produz uma prática
missionária inadequada. Alguns
fundamentos precisam ser levantados para a prática de uma missiologia bíblica.
De acordo com (BOSCH, 2002),
1- Toda a existência cristã deve ser caracterizada
como existência missionária. A igreja começa a ser missionária não através de
sua proclamação universal do evangelho, mas através da universalidade do
evangelho que ela proclama.
2- A natureza
missionária da igreja não depende simplesmente da situação na qual ela se
encontra em dado momento, mas está baseada no próprio evangelho. A justificação
e fundamentação das missões no exterior, bem como das missões no próprio país,
“residem na universalidade da salvação e na indivisibilidade do reinado de
Cristo”. A diferença entre missões no exterior e no próprio país não é uma
diferença de princípio, mas de alcance.
3- Temos de
distinguir entre missão (no singular) e missões (no plural). O
primeiro conceito designa a missio Dei (missão de Deus), isto é, a
auto-revelação de Deus como Aquele que ama o mundo, o envolvimento de Deus no e
com o mundo, a natureza e atividade de Deus. A missio Dei enuncia a boa
nova de que Deus é um Deus para as/pelas
pessoas. Missões são os empreendimentos missionários da igreja. Designam formas
particulares, relacionadas com tempos, lugares ou necessidades especifica, de
participação na Missio Dei.
4- A Igreja-em-Missão pode ser descrita em termos de
sacramento e sinal. Ela é sinal no sentido de indicação, símbolo, exemplo e
modelo; é sacramento no sentido de mediação representação ou antecipação. Não é
idêntica ao reino de Deus, mas também não deixa, mas também não deixa de estar
relacionada a ele; é um antegosto de sua vinda. Vivendo a tensão criativa de,
ao mesmo tempo, ser chamada para fora do
mundo e ser enviada ao mundo, ela é desafiada a ser o jardim experimental de
Deus na terra, um fragmento do reino de Deus, tendo as primícias do Espírito.
Diante dos conceitos expostos acima a visão sobre
missão da igreja é ampliada e passamos a compreender a igreja em termo de
funções bem específicas. Para (BOSCH,
2002) são pelo menos três as maneiras de reconhecer o papel da igreja;
· A igreja
como essencialmente missionária;
esta é a declaração que encontramos em 1
Pedro 2.9. a igreja não é a remetente, mas a remetida. A igreja existe ao ser
enviada e edificar-se visando à sua missão. A missão não constituiu uma atividade periférica de uma
igreja estabelecida, uma causa piedosa que
pode ou não ser atendida. Trata-se de um dever que é de toda a igreja. Visto
que Deus é um Deus missionário, o povo de Deus é missionário. A atividade
missionária não é tanto uma ação da igreja, mas uma igreja em ação.
· Igreja
como povo peregrino de Deus. A igreja
é chamada para fora do mundo e enviada de volta ao mundo. Ela não tem
residência fixa aqui, está em uma residência temporária. Está permanentemente a
caminho, dirigindo-se aos confins da terra.
· A igreja
como sacramento e sinal. Na visão
de Paulo a sua própria missão é serviço sacerdotal do evangelho e desafiou a
comunidade cristã a se oferecer como sacrifício vivo a Deus.