Desde o episódio da queda o ser
humano se especializou em dar desculpas para dar vazão aos seus sentimentos e
atitudes erradas. Encontrar culpados para as ações pecaminosas tornou-se nossa
habilidade. É difícil encontrar alguém de imediato assuma a sua culpa ou
responsabilidade, quase sempre somos tomados pelo sentimento de Adão, que é o
de transferir a responsabilidade para alguém, ou alguma coisa.
Basta fazermos um paralelo entre
a história de Jesus e a de Adão para compreendermos essa tendência humana. Adão vivia num paraíso, cercado de belezas
naturais indizíveis, em plena harmonia com o meio ambiente, com todas as suas
necessidades básicas supridas, acompanhado de sua esposa, em perfeita e
absoluta comunhão com Deus, e pecou. Embora as circunstâncias lhe fossem
favoráveis, Adão não conseguiu manter a pureza de seu coração.
Por outro lado, Jesus esteve por
quarenta dias no deserto, um ambiente hostil, inapropriado para a vivência do homem,
sozinho, sem o suprimento de suas necessidades mais básicas, mas não pecou.
Embora as circunstâncias fossem desfavoráveis, Jesus manteve puro o seu coração
diante das investidas de satanás. Lembre-se que as ofertas para Jesus foram
superiores à aquelas feitas a Adão.
A grande lição deste paralelo é
que a prática do pecado não está relacionada ao momento que vivemos. Não
podemos justificar nosso erro criando argumentos sociológicos, psicológicos,
políticos ou religiosos.
Davi, considerado homem segundo o
coração de Deus, teve o seu momento de “Adão”. As circunstâncias da vida de
Davi tinham sido bem piores em tempos anteriores, quando ele era perseguido por
Saul, teve que peregrinar por terras inimigas, se fingir de louco para não
morrer, sem contar das lanças que teve que desviar, que eram lançadas de um rei
louco, louco pelo poder. Nesse tempo a Bíblia não relata nenhum grande delito
de Davi. Quando finalmente assume o reinado, realiza grandes conquistas, se
solidifica como rei e a vida lhe parece sob controle, ele comete o maior
desatino de sua história e a partir dali sua vida, seu reino, nunca mais foram
os mesmos.
Esse comportamento humano tem
dois objetivos imediatos em vista. Primeiro é uma tentativa de fugir da
responsabilidade pelo ato, uma forma de não assumir que se cometeu um erro e,
portanto, é passível de correção. Segundo, quase como uma conseqüência, é a
transferência de responsabilidade. Quando não podemos negar a responsabilidade,
podemos transferir, ou seja, insinuar que na verdade não queríamos cometer tal
desatino, mas fomos forçados pelas circunstâncias. Senso assim na verdade não
somos culpados, mas sim vítimas de uma situação.
Provérbios nos ensina que de tudo
quanto devemos guardar, guardemos no nosso coração, pois é dele que procedem os
desígnios. Jesus nos adverte que o que nos contamina não é o que está externo,
mas o que procede do coração. (Mateus 15.18-20). O profeta Jeremias nos avisa
de que o nosso coração é enganoso e o sábio Salomão nos diz: “o que confia no seu próprio coração é
insensato” (Provérbios 28.29).
Pr. Antônio Siqueira