A
mensagem inaugural do ministério público de Jesus, numa sinagoga na Galiléia,
era uma mensagem de libertação, do anúncio do “ano aceitável do Senhor”. O
messias anunciado pelos profetas e esperado por Israel era um libertador. “as
pessoas criam que o messias restabeleceria a dinastia de Davi e libertaria o povo de toda opressão
estrangeira,” (TROCMÉ,2004.p.13).
A
quebra de expectativa gerada por Jesus se deu quando ele para seu discurso sem
enunciar a frase seguinte que anunciaria ao dia da vingança.
Quando
Jesus leu Is 61 na sinagoga a congregação provavelmente esperava que ele
anunciasse vingança contra os inimigos, especialmente contra os romanos – uma
vingança que seria um passo preliminar rumo à época de libertação (...)Eles
estavam esperando ardentemente um sermão com impulso revolucionário e talvez as
palavras iniciais de Jesus “hoje se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir”
v.21 atiçou ainda mais essa expectativa. (BOSCH,2002.p,143).
Ford
chama a nossa atenção para o fato de que a missão de Jesus, do ponto de vista
de Lucas tem um aspecto que vem sendo negligenciado ao longo do tempo, que é o
aspecto da pacificação, da retribuição não violenta ao mal, da futilidade e
natureza autodestrutiva da vingança e do ódio.
Ao
longo do evangelho Lucas detalha como essa atitude pacificadora de Jesus foi
vivenciada. Lucas deixa claro que a missão de Jesus é de compaixão para com os
pobres, marginalizados, até mesmo para o inimigo. “Ele é o ungido de Deus que
anunciará um ano de favor tanto
para os judeus quanto para os
seus oponentes” (BOSCH, 2002.p,144).
A
mensagem do messias suplanta a vingança e em episódios como a atitude de Jesus
para com os samaritanos, em que Tiago e João pedem para descer fogo do céu,
diante da recusa em dar hospedagem a Jesus é uma evidência de que Jesus não
quer adotar sentimentos vingativos. Outro episódio relatado por Lucas que
destaca essa atitude pacificadora de Jesus é encontrado no capítulo 13.1-5. Os
ouvintes de Jesus esperam que ele exprima sua reprovação aos romanos, mas ao
invés disso Jesus usa essa situação para chamá-los ao arrependimento no lugar
do sentimento de vingança. A própria
atitude de Jesus diante de seus algozes ressalta o seu compromisso com a não
violência. Seu comportamento nos eventos que ocorreram durante sua crucificação
e morte ressalta a completa ausência do sentimento de vingança.
Sua
oração, juntamente com a palavra de perdão dirigida aos criminosos da cruz
(ambos relatados somente por Lucas), mostram que, mesmo ao sofrer a morte de um
escravo e criminoso, Jesus voltou-se em amor e perdão para os marginalizados e
inimigos, vivenciando assim, uma ética que era completamente contrária à
ideologia militante tanto dos opressores quanto dos oprimidos. (FORD apud BOSCH 2002.p, 145-146).
Lucas
está convencido de que o evangelho de Jesus é pacificador, que estimula o amor
aos inimigos e o perdão. No reino de Cristo não há espaço para a vingança e o
ódio.