(Extraído do livro: Homilética - a primazia da pregação. De minha autoria)
Porque
precisamos da pregação?
Existe
necessidade da pregação? Há espaço em nossas igrejas para a pregação? Os
modelos de igrejas, de cultos valorizam a pregação? Haverá lugar na igreja
moderna e no mundo moderno, para a pregação, ou ela tornou-se obsoleta,
irrelevante?
Precisamos
fazer estes questionamentos se queremos realmente estudar homilética. Não
haverá necessidade de estudarmos essa matéria se as respostas às questões
anteriores forem negativas. Nossa grande preocupação está no fato de que nossas
respostas podem ser afirmativas, mas na verdade, a nossa prática diária não
reflete o valor que damos para a pregação.
Ninguém
em juízo perfeito, que leva a Escritura a sério, poderia negar a primazia da
pregação. (Romanos 1.11-12,15). Paulo escreveu cartas inspiradas que regem as
ações da igreja, mas jamais interpretou que seus escritos pudessem substituir o
confronto pessoal.
No
Novo Testamento vemos que a pregação é meio pelo qual Deus opera (1 Pedro
1.23-25). Paulo afirma aos tessalonicenses que foi através da pregação que
ocorreu toda a transformação da sociedade deles (1 Tessalonicenses 1.9-10;
2.13). Segundo Robinson ( 1983, p.14) a pregação “na idéia de Paulo não
consistia de um homem que discutia religião. Pelo contrário, o próprio Deus
falava através da personalidade e mensagem de um pregador para confrontar
homens e mulheres e trazê-los para Ele”.
A
obra da pregação é a mais elevada, a maior e a mais gloriosa vocação para a
qual alguém pode ser convocado (LLOYD-JONES 1984, p.7). O chamado que Deus nos
concedeu de pregarmos a palavra viva é um dom inestimável, pois o valor desse
dom para a igreja é incalculável. Podemos afirmar sem hesitação que, a mais
urgente necessidade da Igreja Cristã da atualidade é a pregação autêntica.
(LLOYD-JONES, 1984, p.7).
Conta-se
a história de um pregador, cuja esposa mantinha em casa uma caixa fechada, e
ela não contava a ninguém qual o
conteúdo daquela caixa. O marido insistia, insistia para que ela contasse o que
havia dentro daquela caixa, mas ela nunca cedia. Certo dia a esposa saiu para
uma reunião de mulheres da igreja e o homem curioso que só, não agüentou de
curiosidade e abriu a caixa. E o que tinha dentro? Três ovos e mil reais. A sua
curiosidade só aumentou porque não entendeu o que significava aqueles três ovos
e o dinheiro. Quando a esposa chegou, o marido inquieto lhe disse que havia
aberto a caixa, não suportara a curiosidade, mas que agora estava mais curioso
ainda porque não podia entender qual era o significado daquelas coisas dentro
da caixa. A esposa então lhe disse que nos últimos quinze anos de ministério
toda vez que ele pregou mal ela havia colocado um ovo na caixa. O marido
sorridente e aliviado suspirou, afinal de contas em quinze anos, apenas três
ovos, mas antes que a admiração lhe tomasse conta ele se lembrou do dinheiro e
perguntou o que significava o dinheiro, ao que ela respondeu: sempre que intera
uma dúzia eu vendo.
Nossa
tarefa como pregadores é absolutamente nobre e como tal deve ser exercida com
nobreza. As escrituras afirmam que em não havendo profecia o povo perece. A
causa de tanta fragilidade e despreparo dos crentes, assim como o surgimento de
tantas doutrinas falsas que proliferam dentro de nossas igrejas, seja a
ausência de uma pregação autentica.
Nossos
cultos têm sido transformados em shows. Os pregadores precisam se adequar a
essa nova mentalidade de culto e se transformarem em homens de palco. Essa
mudança vem ocorrendo desde o século passado e tem deixado grande prejuízo para
o evangelho. Certamente a causa dos principais problemas da igreja de hoje é a
falta da pregação bíblica. A perspectiva bíblica acerca do homem é clara. O
homem está caído, e por natureza ele está morto em seus delitos e pecados.
Quando Paulo anuncia esta perspectiva em Efésios 2. 1-5 ele tem em mente que o
homem está morto em seu relacionamento com Deus e impossibilitado de se
relacionar com Deus, a não ser pela ação da graça de Deus na vida deste homem.
Uma das razões pela qual o homem está impossibilitado de retomar seu caminho
com Deus é que ele está cego. Em 2 Coríntios 4.3-4 nos é dito que o príncipe
deste mundo cegou o entendimento dos homens, por isso estão com seu
entendimento obscurecido. Podemos compreender que a perspectiva bíblica do
homem é que este se encontra em um estado de ignorância.
Paulo
classifica a salvação em como “chegar ao conhecimento da verdade”. O
ensinamento bíblico atinente a salvação
é o fato de conduzir os homens a esse “conhecimento” que lhes falta, de
dissipar a ignorância. (LLOYD-JONES 1984, p.20). Daí a primazia da pregação.
Lloyd-Jones sintetiza isso da seguinte maneira:
“Se
a mais profunda necessidade do homem, se a sua necessidade final é algo que
procede dessa sua ignorância, a qual, por sua vez, é resultado de sua rebeldia
contra Deus, então, nesse caso, o que ele necessita antes e acima de tudo é ser
informado a esse respeito, ser informado sobre a verdade acerca de si mesmo,
ser informado do único meio através do qual a situação pode ser modificada. Por
conseguinte, assevero que é tarefa peculiar da igreja, bem como do pregador,
tornar tudo isso conhecido”. (LLOYD-JONES 1984, p.21)
Precisamos
da pregação para dar ao homem o conhecimento que ele precisa para sair a
ignorância com relação a salvação. Muito do que se vê do descomprometimento dos
homens para com Deus se deve ao fato de não conhecerem os desígnios de Deus.
Quando
nos propomos a estudar a homilética, acima de tudo queremos nos conscientizar
de que a tarefa a nós confiada é de suma importância, é fundamental para o
desenvolvimento do evangelho e para que Cristo encontre um povo seu zeloso e
fiel quando voltar em sua glória.