domingo, 12 de janeiro de 2014

Exposição de Judas: Introdução

A epístola de Judas apresenta a apostasia dentro da cristandade, desde seus primeiros elementos ou manifestações dentro da igreja até o seu julgamento na volta de Cristo. Mas a principal preocupação retratada na carta é a apostasia moral que transformou a graça de Deus em libertinagem.

Quem são estes que se apostatam da fé? Essa pergunta deve se manter em nossa mente durante o tempo em que estudarmos essa pequena carta.

Existe um nítida diferença entre a carta de Judas e a carta de 2 Pedro. Pedro fala de pecado enquanto Judas fala de apostasia, a saída da igreja do seu estado inicial diante de Deus.  o tema central de Judas é o afastamento da santidade da fé. Ele não está tratando de uma separação visível. Sua compreensão é a de que os cristãos são um número de pessoas que professam uma religião na terra e que são fiéis àquilo que professam. Algumas pessoas entraram na igreja sorrateiramente. Sem temor essas pessoas participavam da festa do amor (ceia),  embora Cristo estivesse presente entre eles, não se importam para a realidade do juízo de Deus. Esse é o caráter do ímpio, vive em rebelião aberta mesmo em  momentos de juízo.

Análise do verso 1

A- O autor

Pela maneira como o autor da carta se  apresenta, percebe-se que ele não usa a sua relação parental com Jesus como meio de estabelecer autoridade. O autor e Tiago são irmãos, e este é irmão de Jesus. O autor da carta de apresenta como  servo (δουλος ) de Jesus Cristo e irmão (αδελφος)  de Tiago.  Por qual motivo Judas não se identifica como irmão de Jesus? podemos pensar em algumas opções:
1- Judas não queria que sua exortação fosse aceita mediante a sua relação parental com Jesus, uma vez que ele não fora parte do grupo apostólico; sua autoridade em exortar provém de um chamado do Senhor Jesus.
2- Judas não queria criar um ambiente de ciúme entre o grupo. Ele deseja ser reconhecido como um cristão entre outros cristãos; sua relação com Jesus não é por meios naturais, mas como Salvador, seu laço com Jesus se  dá pelo sangue derramado na cruz, não pelos laços de sangue fraterno.

 Podemos entender sua posição dentro da igreja. Ele não é um dos do grupo apostólico, mas à semelhança de Barnabé, Apolo, Timóteo e outros, exerce um ministério semelhante ao do grupo apostólico, sem ser apóstolo no sentido estrito da palavra. Judas não se intitula apóstolo, como o fazem Paulo e Pedro nas introduções de suas cartas

A ideia da palavra δουλος é escravo. Esse termo foi usado metaforicamente para expressar a concepção do nosso serviço a Cristo. No meio cristão um δουλος é alguém que se entrega a uma outra vontade, aqueles cujo serviço é devotado a Cristo para a ampliação e avanço da obra de Cristo; Ser um escravo de Cristo é portanto, é dedicar-se a Cristo a despeito de seus interesses pessoais.

Esse conceito de servo talvez seja a justificativa de o autor se apresentar como irmão de Tiago, mas não estabelecer que também é meio irmão de Jesus. É possível que o apelido "irmão de Jesus" fosse de Tiago, mas o mais provável é que Judas colocasse a sua relação com Cristo, acima de sua relação parental com Jesus.

B- Os destinatários

Os destinatários são identificados como sendo, "os santificados em Deus Pai" e "os guardados em Jesus Cristo".

B.1 - "Os santificados" - o texto não está tratando da santidade interna, que é realizada em nós pelo Espírito, mas ao ato da santificação realizada pelo Pai. A santificação primeiro ocorre como um ato extra nós.
A escritura continuamente faz uso de "santificados" e "santos". O primeiro é um ato e expressa o nosso estado, o segundo é um processo e expressa a nossa condição. O ato da santificação se dá na eterna eleição de Deus, por isso ela é tratada por Judas como sendo no Pai. Posicionalmente estamos santificados no Pai, mas ainda não alcançamos a plenitude da santidade no corpo, que é realizada em nós pelo Espírito, por causa da obra de Cristo.
 A nossa eleição é uma obra trinitária, Deus o Pai, santifica e separa para si, por meio da eleição, o Filho, pela cruz, propicia o pagamento da dívida, e o Espírito Santo opera em nós a regeneração, elemento essencial para que comecemos a desenvolver a nossa salvação. Somente aqueles que são santificados podem ser santos. Você jamais irá desenvolver um padrão de vida que agrade a Deus se antes, Deus não tenha santificado sua vida. A prática de uma vida santa é a grande evidência de que já somos santificados.

B.2 - "Os guardados"  - naturalmente, aqueles que são santificados, são também "preservados" em Cristo, por que foram chamados Nele; Eles têm um lugar no coração Dele, estão em suas mãos e dali ninguém os pode tirar, estão unidos em Cristo, como os membros do corpo estão ligados à cabeça, e são representados por Ele na aliança da eleição. Eles existem por causa Dele, são preservados por Ele.
A que tipo de proteção o texto bíblico está se referindo? Ao que parece, não se refere à corrupção do pecado e suas transgressões, pois ainda as cometemos, nem das tentações, nem de dúvidas, de incredulidades, nem de deslizes e quedas, mas não obstante a transgressão ainda habite em nós, não morremos, como aconteceu com Adão. Somos guardados em Cristo, por que a lei não pode mais executar a sua sentença de condenação sobre nós que estamos em Cristo. "Somos guardados da tirania do pecado, de sermos devorados pelo feroz inimigo. Em Cristo somos preservados no amor de Deus, na aliança da graça, num estado de justificação e adoção, no caminho da verdade, da fé, e santidade. somos preservados a salvos para o reino celestial e para a glória." (GILL)

B.3 - Os chamados - não apenas pelo ministério da Palavra, mas internamente chamados pelo Espírito. chamados das trevas para a luz, da escravidão para a liberdade, da auto confiança para a graça e justiça de Cristo. De um mundo sem Deus para o reino de glória do Pai.
Este chamado deve ser entendido como um chamado especial, uma vocação eficaz que Deus opera naqueles que Ele deseja para si. Rom_8:30.

C- A saudação
A saudação dessa breve carta contém o desejo de que a misericórdia seja com eles e ao mesmo tempo que a paz e o amor sejam multiplicados.

C.1 - Misericórdia -   A misericórdia é uma perfeição de Deus, que se manifesta de modo especial para aqueles que são eleitos, na aliança da graça, que proveu Cristo como nosso salvador, em sua missão redentora, perdoadora e regeneradora. "A misericórdia é um modo diferente de mostrar o que é a graça. Misericórdia e graça são as duas faces da mesma moeda. Graça, de um lado, é Deus dando aos homens o que eles não merecem, isto é, a redenção. Misericórdia, por outro lado, é Deus deixando de dar aos homens o que eles definitivamente merecem, isto é, condenação. Se Deus é misericordioso, Ele, conseqüentemente, é gracioso. E a misericórdia, segundo a Escritura, é a manifestação da vontade soberana de Deus." (Heber Campos).

C.2 - Paz - Judas está pensando em uma ampliação da paz naqueles que foram santificados e preservados em Cristo. A paz é resultado da ação salvadora de Deus. Como efeito da lavagem no sangue de Cristo, o cristão é tomado de uma consciência de paz. Essa paz é externa, interna e eterna.

C.3 - Amor - Judas deseja que o amor de Deus seja multiplicado naqueles que receberam a eleição. O amor de Deus que foi derramado em nossos corações deverá gradualmente ir se expressando, em situações de alegria, em meio a provações e tentações.

Renovação Espiritual ou Inovação: O que de fato vivemos na Igreja Evangélica Brasileira?

Desde os anos 80 temos experimentado um movimento de renovação, ou pelo menos de busca constante por renovação espiritual. Nesse processo temos visto e experimentado de tudo um pouco. Desde de momentos de sincera devoção e ação de Deus, até absurdos teológicos e práticas que chegam à beira da insanidade.

O problema com o nosso processo de renovação espiritual é conceitual. Buscamos um processo de renovação que parte de nós em direção a Deus. Oferecemos técnicas e recursos de busca pelo poder espiritual, transformamos a renovação espiritual numa atividade humana, como numa receita de bolo. Graficamente, poderíamos ilustrar nosso processo de renovação espiritual como sendo algo de fora para dentro (atos e rituais que nos submetemos) e depois de dentro para o alto (esses atos e rituais convencem a Deus de nossa boa intenção), e Deus por sua vez, pressionado por nossa atitude de fé, se vê na obrigação de agir, realizando a nossa vontade. O que temos chamado de renovação é na verdade, a supremacia de nossa vontade.  

Por termos uma mentalidade dualista, separando o o sagrado do secular, o fato do valor, nosso "programa" de renovação se torna apenas espiritual, ou seja, não atinge o homem em sua plenitude. O que estamos chamando de renovação espiritual é de fato uma tentativa exacerbada de criarmos a nossa própria forma de redenção, relegando a Deus o papel secundário de ser proativo à nossa atitude de fé. A nossa fé, no processo de renovação espiritual que temos criado é a senha para que Deus desencadeie uma série de benefícios para nós.

O que a Escritura nos aponta como renovação espiritual é bem diferente do que temos visto em nossos dias. O modelo da Escritura é de algo que vem do alto (Deus expressando sua vontade) para dentro (atingindo o nosso coração, que é o centro de nosso ser) e se manifestando para fora (promovendo alterações não apenas no indivíduo, mas em tudo que o cerca).

Renovação espiritual é um movimento parte de Deus, para modificar a ação da homem em sua relação consigo mesmo e com o mundo e com o próprio Deus. Esta transformação não pode ser operada pelo homem, porque o seu coração, mesmo sendo purificado, continua enganoso, sendo preciso mantê-lo em constante vigilância.

Quando vivemos um processo de renovação espiritual, a consequência natural é que todos aqueles que são renovados se transformem em testemunhas de Cristo. O exemplo bíblico de Atos 1.6-11, é a evidência disso. Deus opera do alto, dando-lhes o Espírito, e os discípulos por sua vez, tornam-se testemunhas de Cristo. A renovação não é para o homem, mas para o reino, procura dar glória a Deus e não ao homem.






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