sábado, 27 de abril de 2019

A necessidade de se lutar pela pureza doutrinária no tempo atual (parte I)[1]


Introdução


A despeito da profecia bíblica de que nos últimos dias haverá o aumento da iniquidade, e que haverá um aumento da falsa profecia, somos instados por Deus a lutar pela fé evangélica. Não podemos nos escusar no fato de que haverá aumento da iniquidade, como uma justificativa para não reagir ao aumento dos movimentos dos falsos profetas em nossos dias.
Toda falsa profecia é nociva para a saúde da igreja. A conivência com o erro cobra um preço alto da igreja. Além de desviar o rebanho do caminho da verdade, a operação do erro dentro dos limites do aprisco irá enfraquecer a fé daqueles que eventualmente ainda não tenham sido contaminados pelo erro.
Outro fator que não pode ser deixado de lado quando se pensa no dano que o erro cobra da fé, diz respeito à confusão que se estabelece no meio do rebanho. É comum que os crentes não consigam discernir o erro doutrinário. A operação da mentira cria uma sensação de que todos estão certos, que há apenas divergências de opinião entre um grupo e outro.
Diante desse aspecto tão nocivo que a falsa profecia provoca na igreja, este texto tentará debater acerca da necessidade de se lutar pela pureza doutrinária dentro da igreja, e procurará estabelecer que princípios poderemos utilizar para combater os falsos profetas que agem nos dias de hoje. Por meio da análise de textos bíblicos que tratam da falsa profecia e da disciplina eclesiástica tentaremos estabelecer uma postura a ser tomada.

1 – A necessidade de se lutar pela pureza doutrinária

A realidade da falsa profecia dentro da igreja é claramente demonstrada pela contínua advertência do Novo Testamento quanto a necessidade de vigilância.

a- Exortações bíblicas sobre o cuidado com a falsa profecia

A igreja é advertida acerca dos falsos mestres da mesma maneira que Israel fora avisado dos falsos profetas. (2 Pedro 2.1-2). Surpreendentemente em menos de um século a igreja já está sendo invadida por falsos mestres e isso fica bem evidenciado pela amplitude com que o tema é debatido dentro do Novo Testamento.
Essas exortações bíblicas acerca do cuidado com o falso ensino estão distribuídas quanto a origem, os métodos e a postura com relação aos falsos mestres:

1- Quanto a origem dos falsos mestres

A grande questão relacionada aos falsos profetas e seus falsos ensinos é a sua origem. A igreja em geral se prepara para defender-se das ameaças que vem de fora. Não podemos nos esquecer de que as ameaças que igreja enfrenta não são apenas externas. Na verdade, os maiores perigos que ameaçam a igreja vêm de dentro. Tanto Paulo, quanto João advertem a comunidade do povo de Deus quanto aos falsos profetas que surgem dentro da igreja.

a- O surgimento dos falsos mestres é um prenuncio da chegada do fim

Filhinhos, já é a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também, agora, muitos anticristos têm surgido; pelo que conhecemos que é a última hora. 1 João 2. 18
João entende que a última hora chegou por causa do surgimento do anticristo e seus precursores.  João estava convencido, não só de que era o último tempo, mas que dentro deste período final “a última hora” tinha soado. (STOTT, 1982, p. 89)
Muito tem se debatido acerca do que significa essa “última hora” referida por João.  O mais seguro é entender que João não está apontando para um aspecto cronológico, quer dizer, ele não está marcando uma data para a vinda do Senhor. Ele está sim fazendo uma abordagem teológica com base nas afirmações do próprio Jesus (Mc 13. 14 – 23), de que tribulação e apostasia, incluindo o surgimento de falsos mestres e de falsos profetas prenunciariam a chegada do fim. Como afirma Stott ( 1982) é porque “há muitos anticristos” que João pôde afirmar que sabia que era “a última hora”.
Os apóstolos eram conscientes que antes da vinda do Senhor haverá uma grande e final investida das forças do mal. É o que Stott ( 1982) chama de a última e desesperada resistência da parte dos inimigos de Cristo. 
Por trás do conceito de anticristo está todo falso mestre e inimigos da verdade. Esta oposição à verdade vai se intensificando até culminar na pessoa do falso profeta, representado pela besta que emerge da terra de Apocalipse 13, que reunirá sob si todas as forças anti Deus, numa vã tentativa de destrona-lo, apontando para um falso messias, a besta do mar.
A expressão muitos anticristos têm surgido é uma forma de João reconhecer a chegada e o impacto desses falsos mestres na igreja e na sociedade como um todo.

b- O surgimento dos falsos mestres é decorrente da negação fé

Eles saíram do nosso meio; entretanto não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos. 1 João 2.19
Estes anticristos são claramente identificados com os falsos mestres que deixaram a igreja. A saída deles do convívio da igreja é “a semelhança de Judas uma deserção, uma traição, uma negação da fé, um rompimento com Deus. ” (BARKER, 1981, p. 324). Existe um aspecto de voluntariedade na saída deles. Não foram expulsos, não sofreram um processo disciplinar e consequentemente receberam uma excomunhão.
Saíram porque eram agentes do mal infiltrados e estabelecidos no meio da igreja com o intuito de promover o erro, o desvio da verdade no meio do povo de Deus.  Judas em sua carta expressa pensamento similar ao de João no que diz respeito a estes que saíram do nosso meio. No verso 4 ele diz: “Pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo”.
Ao comentar esse texto, Calvino diz:
A palavra παρεισδυσαν, que ele usa, denota uma insinuação furtiva e indireta, pela qual os ministros de Satanás enganam os incautos. Satanás semeia seu joio de noite, e enquanto os lavradores estão dormindo, a fim de corromper a semente de Deus. Ao mesmo tempo, ele nos ensina que esta é uma guerra interna, pois neste aspecto Satanás também é astuto, na medida em que suscita para causar dano aqueles que são do rebanho, a fim de que possa se introduzir mais facilmente. (CALVIN, [s.d.], p. 401)
Um verbo semelhante é usado em por Pedro (2 Pedro 2.1) e por Paulo em Gálatas 2.4. Em ambas as referências a metáfora é de espiões que são introduzidos em terra inimiga com o objetivo de trazê-los para o seu lado.
Faz parte da estratégia do reino das trevas operar contra a verdade, fazendo uso de pessoas dentro da própria igreja.  São introduzidos no rebanho, mas não são fiéis, seu coração é ímpio, não foram transformados pela graça de Deus e por isso mesmo tentam transformar a graça de Deus. Não conhecem e Jesus, por isso negam o seu Senhorio.
Os falsos mestres entram de maneira furtiva no convívio da igreja. A princípio não são ameaçadores, pois usam de dissimulação, aparentam ser ovelhas, se misturam no rebanho para em momento oportuno lançar seu ataque feroz. São semelhantes ao falso profeta que virá como precursor do Homem da iniquidade, que tem aparência de cordeiro, mas fala como dragão (Ap. 13. 11).
Por serem dissimulados, negam a fé que professam. Pervertem doutrinas essenciais da fé cristã. Judas diz que eles transformam a verdade. Os falsos mestres à semelhança de seu mestre, o diabo, agem por meio do engano. A palavra grega μετατιθεντες[2] usada aqui, é também usada em 2 Coríntios 11. 13 – 15, para dizer que satanás se transforma em anjo de luz. Essa palavra refere-se a alguém que muda seu aspecto externo, apresentando uma expressão externa, que não representa o que ele é internamente. Alguém que expressa externa o que não é internamente em seu caráter. Esse é o problema com o falso mestre, ele apresenta ser uma coisa quando na verdade é outra.

c - O surgimento dos falsos mestres é uma ameaça real e letal

Atos 20:29 – “Eu   sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho.30 E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles”.
Paulo tem consciência dos perigos que a igreja enfrentará depois de sua partida. Ele demonstra sua preocupação advertindo a igreja acerca desses perigos. A igreja será atacada por todos os lados, por pessoas que se infiltram e por pessoas que surgem no meio dela.
A figura de lobos vorazes retrata os falsos mestres que adentram no rebanho para enganar e desviar os fiéis do caminho. Como lobos que atacam o rebanho e destroçam as ovelhas desavisadas, esses homens são impiedosos em destruir a fé dos membros da igreja.
Pink comentando sobre essa metáfora do lobo diz:
O lobo é traiçoeiro, sutil, assim são os falsos mestres, eles estão sempre a espera para enganar. Eles são inescrupulosos na arte de enganar, usam de táticas desonrosas e recorrem a truques que os homens honestos não usariam. Assim como o lobo é cruel e impiedoso, também os enganadores das almas, que cheios de ódio enganam os incautos.  Como os lobos, os enganadores são gananciosos, possuem um apetite voraz; eles têm uma ambição insaciável, são famintos por aplausos e avarentos. (ARTHUR W. PINK, 2004)
Esta metáfora do lobo usada por Jesus e também por Paulo, ilustra perfeitamente como os falsos mestres são danosos para o rebanho de Deus. Eles não se preocupam com o rebanho, antes fazem uso dele para satisfazer as suas necessidades, quer sejam financeiras ou emocionais.
Eles furtivamente preparam emboscadas com ensinos falsos, negando fundamentos da fé. São contra estes que Judas advertiu, dizendo, “pois, certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo”.
Há membros da igreja que se levantam também para ensinar o erro. O perigo da heresia é real e a sua origem não é fora do arraial.  Paulo sabe que “alguns desses lobos surgirão de dentro da igreja”. (STOTT, 1990, p. 327). Por isso a advertência de Paulo é que de dentro de vós surgirão homens que ensinarão a mentira.
 A letalidade dos falsos mestres é devido ao ensino da mentira. Como disse Calvino “a corrupção da doutrina é uma praga mortal para as ovelhas. ”(CALVIN, p. 200). Corromper a doutrina é como dar veneno para o rebanho de Deus.
 O alvo desses hereges é criar um rebanho para si, a partir do ensino da mentira. Eles são movidos por sórdida ganância. Querem dominar o povo.  Eles são arrogantes e ambiciosos. Por serem assim eles corrompem o evangelho.  “Os que corrompem a sã doutrina são viciados em si mesmos”(CALVIN, p. 200), por isso buscam gloria para si mesmos. Querem tirar a glória de Cristo, e ao contrário do bom pastor que deu a vida por suas ovelhas, estes lobos as matam.

d- O surgimento dos falsos exige a necessidade de se comprovar a procedência dos pregadores

1 João 4.1-6 – 1 Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora.2 Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; 3 e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo.  4 Filhinhos, vós sois de Deus e tendes vencido os falsos profetas, porque maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo. 5 Eles procedem do mundo; por essa razão, falam da parte do mundo, e o mundo os ouve. 6 Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não nos ouve. Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro.
João está chamando atenção dos crentes para o perigo sempre presente de haver no meio de nós, pessoas que estejam a serviço da mentira e não da verdade, operando como instrumentos do inimigo e da necessidade de se identificar tais pessoas. Dr. Kistermaker (2017), ressalta essa determinação de João em colocar em evidência a necessidade de os crentes não só colocarem à prova os falsos profetas, mas também de serem capazes de detectar os falsos ensinamentos pelo exame de qual espírito está por trás de cada um desses ensinamentos.  Diante disso, o apóstolo levanta três questões fundamentais:
1 – Existe uma propensão natural dos crentes de aceitar qualquer ensino, especialmente se acompanhado de algum sinal
A exortação de João é clara: Amados, não deis crédito a qualquer espírito; nem todo aquele que fala em nome de Deus, de fato fala da parte de Deus. Uma evidência de maturidade em um crente é a sua capacidade de discernimento. Os crentes, em geral, são fascinados por novidades e coisas sobrenaturais e como diz Stott ( 1982) “era preciso mostra-lhes que identificar o sobrenatural com o divino é um erro perigoso.” Nem tudo que é sobrenatural vem de Deus.
Alguns cristãos ignoram esta advertência de João alegando que não podem se levantar contra o profeta de Deus, e esquecem que a própria Escritura é que os autoriza a verificar o profeta. Como os de Beréia que depois de ouvirem a Paulo, examinaram as Escrituras para ver se as coisas eram, de fato, assim. (Atos 17.11). O resultado da prudência dos bereanos é que muitos se converteram, por que se convenceram daquilo que estava sendo pregado.
2 – Existe a necessidade natural de provar o caráter do profeta e de sua profecia.
“...antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora. ”
A fé não pode ser encarada como um sistema fechado, não somos uma religião de mistérios ou de castas iluminadas. A verdade é razoável. Pedro exorta seus leitores a saberem dar razão da esperança que possuem (1 Pedro 3.15).  O fato é que “a fé verdadeira examina seu objeto antes de depositar sua confiança nele.” (STOTT, 1982).
A natureza do profeta e da profecia por si só já justifica a necessidade de se provar o seu caráter. Profetas, falsos ou verdadeiros, falam por meio de algum espírito. João nos diz que o verdadeiro profeta fala pelo Espírito de Deus (v.2), que também é chamado por João de “Espírito da verdade”. Por outro lado, o falso profeta fala movido pelo espírito do erro (6b) ou o “espírito do anticristo” (v.3), por isso são enganadores, são falsamente inspirados. Portanto, por trás de cada profeta está um espírito, e por trás de cada espírito está Deus ou o diabo.
Não se deve dar ouvidos a ninguém sem antes confirmar a origem, se realmente procede de Deus. A exortação provai, dá a cada cristão o direito de examinar a procedência do espírito, exatamente porque existem muitos falsos profetas soltos pelo mundo afora.
A forma verbal provai é a tradução do verbo grego (dokimazo) que significa colocar a prova para determinar valor real de um objeto segundo as especificações legais[3]. O uso do verbo em um imperativo presente ressalta a urgência de diariamente colocarem os espíritos à prova para saberem se procedem de Deus ou não. Assim como no mundo antigo o metalúrgico provava a autenticidade do metal, os crentes devem trabalhar diariamente na tarefa de determinar a pureza e o valor daqueles que estão ensinando na igreja. É preciso ter certeza de que o profeta é confiável, puro e genuinamente homem que fala da parte de Deus.

3 – Existe critérios bíblicos que ajudam o verdadeiro crente a identificar o falso profeta.
            “...Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; 3 e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo.  4 Filhinhos, vós sois de Deus e tendes vencido os falsos profetas, porque maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo. 5 Eles procedem do mundo; por essa razão, falam da parte do mundo, e o mundo os ouve. 6  Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não nos ouve. Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro.”
Um fato reconhecido por João e, também por Paulo, é que nem todo espírito procede de Deus. Em 1 Coríntios 12, Paulo fala do dom de discernir espíritos em conexão com o dom de profecia. Aqui no texto em análise, João está advertindo que nem todo espírito opera para a verdade (v.6). Por essa razão, o apóstolo estabelece dois critérios par a identificação se um mestre é falso ou verdadeiro.
3.1 – A profissão de fé do mestre é um meio de identificar se ele é falso ou verdadeiro
O critério mais seguro para se identificar a idoneidade de um mestre é sua confissão de fé. Brooke (1912, p. 110) argumenta que a confissão de que Jesus é o Deus encarnado, a completa revelação de Deus, o Pai, é um critério seguro, uma vez que a recusa dessa confissão é uma marca qualificante do anticristo.
Confessar Jesus é o teste que Paulo estabelece aos coríntios como forma de estabelecer se alguém fala pelo Espírito de Deus ou não. (1 Co 12.3). Os demônios, embora saibam quem é Jesus, não o confessam, jamais se submeteram a Ele, nunca confiaram nele e nem se comprometeram com Ele. Isso porque a confissão que é exigida é acerca de uma pessoa e de certas pressuposições que lhe são atribuídas, não é simplesmente confessar a encarnação de Cristo, mas confessar o Cristo encarnado. Como afirma Brooke “a verdadeira confissão é a lealdade à pessoa de Jesus e não a aceitação de uma declaração doutrinária”. (BROOKE, 1912). Somente o Espírito de Deus pode levar uma pessoa a confessar lealdade a Jesus.
A palavra homologeo tem uma conotação legal, onde uma pessoa concorda com a outra, e este acordo se expressa num ato de compromisso, promessa ou confissão num tribunal (FÜRST, 1989, p. 465). Por causa deste aspecto legal de confessar, é que não se pode pensar em uma diferença entre prática e discurso na vida cristã.
A doutrina e a qualidade de vida jamais podem ser separadas, uma leva à outra. Mesmo que a conduta do mestre seja boa, e o que ele diz seja aparentemente bom, onde quer que haja uma distorção doutrinaria, sempre haverá uma distorção de comportamento. Essa junção se dá porque dizer coisas certas acerca de Jesus não é evidência da presença do Espírito nessa pessoa, como diz Piper[4], “o sinal da presença do Espírito não está apenas na verdade que sai da boca de um profeta, mas também a sua disposição de viver de acordo com essas palavras”. Esta proposição é bem clara nas palavras de Jesus, quando afirma que nem todo aquele que diz Senhor, Senhor é por Ele conhecido. (Mt 7.21).
3.2 – O caráter de quem ouve é um meio de identificar se um mestre é falso ou verdadeiro
João considera não apenas o caráter do mestre, mas também o do ouvinte como forma de identificar o falso ensino. Nos versos 4 a 6 cada um deles começa com o pronome pessoal diferente. O verso 4 com vós claramente apontando para os leitores da carta; o verso 5 começa com eles numa referência aos falsos mestres e o verso 6 com nós numa alusão aos verdadeiros apóstolos.
Ao se referir aos fiéis como “vencedores” João está apontando para o fato de que os verdadeiros crentes não podem ser enganados pelos enredos dos falsos mestres. Por conhecerem a sã doutrina, os eleitos recusam aquilo que é estranho ao ensinamento da verdade. O verdadeiro filho de Deus, que vive na luz não pode compactuar com a mentira, com a operação do erro.
Mas essa vitória dos eleitos não é por seus méritos, Deus é quem luta por eles. A natureza celestial da mensagem do Evangelho sobrepõe a natureza mundana da mensagem do falso mestre. Estes agem segundo a sabedoria deste mundo, impelidos pela natureza pecaminosa que os domina. Ao contrário, os filhos de Deus, por causa do novo nascimento, vivem em uma nova posição em relação ao Pai, podem discernir a verdade.
Essa relação com a verdade ou com a mentira se dá porque cada pessoa se identifica com aquilo que é de acordo com a sua natureza essencial. O eleito, por viver em uma nova posição com o Pai, se identifica com aquilo que procede de Deus, enquanto que o incrédulo se identifica com a mentira, que procede da natureza do príncipe deste mundo.
Dessa forma pelo caráter de quem recebe a mensagem podemos identificar a veracidade ou a falsidade da mensagem. Em meio aos eleitos a proclamação do falso ensino não encontrará respaldo, levando esses falsos mestres a se retirarem do nosso   meio. A presença de crentes maduros na fé expõe o erro do falso mestre e o torna conhecido, eliminando o que estes operadores do erro tem de melhor, que é a sutileza.


[1] Rev. Antonio Rodrigues Siqueira, Bacharel em Teologia pelo SETECEB, Especialista em Docência Universitária pela UniEvangélica e Mestrando em Teologia Sistemática pelo Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper. Pastor da ICE Vingt Rosado em Mossoró – RN, atua também como professor nos módulos do Curso Teológico por Módulos (CTM).
[2] http://www.studylight.org/lexicons/greek/3345.html, acessado em 04 de março de 2017.
[3] Thayer's Expanded Definition, em: http://www.studylight.org/lexicons/greek/1381.html acessado em 04 de março de 2017.
[4] http://www.preceptaustin.org/1_john_42_commentary

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